
Como saber quando a criança precisa de psicoterapia?
Tenho observado nos últimos anos, um aumento na procura por atendimento psicoterápico para crianças. Normalmente demandada pela escola, onde os sintomas tendem a aparecer, a psicoterapia infantil é recomendada para toda e qualquer criança que está em sofrimento.
Mas como saber quando uma criança sofre?
Costumo dizer que a criança funciona como uma antena parabólica que capta os sinais do que acontece em casa, e por vezes denuncia o que se passa em seu lar, pela via do sintoma.
Porém, pela sua imaturidade do ponto de vista simbólico, ela transforma em ato o sofrimento que não consegue verbalizar.
Além disso, uma criança passa a existir quando habita o desejo de seus pais antes mesmo de seu nascimento. Ao ter seu nome escolhido por exemplo, ou ter as suas características físicas ou de personalidade pensadas por seus pais, ela vai recebendo marcas que lhe localizam no discurso do Outro e que lhe marcam simbolicamente pela via do desejo.
Para compreender que lugar é este que a criança ocupa na família, o psicólogo busca escutar também os pais, por isso é comum que num processo de psicoterapia infantil toda a família acabe sendo convidada para o consultório.
Vou compartilhar um exemplo para que possamos pensar juntos.
Rafaela é filha única. Seus pais sempre quiseram apenas um filho, e a mãe descobre uma gravidez indesejada. Os pais, que idealizavam uma família com apenas um filho, estão em sofrimento devido a nova criança que vai chegar, angustiados pela possibilidade de não dar conta financeiramente desta segunda gestação. Na escola, Rafaela passa a ficar agitada. Conversa com todos ao seu redor e agride com mordidas seus colegas. A escola então, preocupada com a situação da criança e com o bom andamento do cotidiano escolar, solicita que os pais busquem atendimento para a criança, já que ela está perturbando os colegas.
No exemplo citado acima, fica claro o quanto a criança absorve as questões familiares e por dificuldade de simbolizá-las, transforma seu sofrimento em agressão. Sofrimento este que encontra espaço para aparecer no espaço escolar, uma vez que o convívio com pessoas diferentes do núcleo familiar, permite a criança expressar seus afetos de diferentes formas.
Em tempos de isolamento físico e social como na pandemia, é comum alterações de comportamento como dificuldades para dormir, o comer em excesso, o medo do escuro e de alguns animais específicos, dificuldade em ficar sozinho ou o contrário, uma necessidade maior de isolamento. É preciso ficar atento as alterações no comportamento da criança, pois estas podem indicar a presença de sofrimento psíquico. Se este for o caso, procure ajuda! Não pense que você será um pai ou mãe ruim se seu filho precisar de psicoterapia. Talvez vocês estejam passando por um momento difícil, e você também está desamparado sem saber como conduzir a situação.
Qualquer alteração no comportamento da criança, seja através do choro excessivo, seja pelos comportamentos agressivos, dificuldades escolares, a ausência do brincar entre outros, deve servir de alerta para os pais e/ou todos aqueles responsáveis pelo cuidado com a criança.
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