A psicanálise situa-se entre a arte e a ciência. Ela nasce a partir
das inquietações vividas na contemporaneidade como a solidão, a
falta de amor, a insatisfação sexual, as fobias, entre outros.

Foi a partir destes impasses, que Freud deu-se por conta que os sintomas produzidos no presente, diziam respeito a afetos outrora vivenciados.
Os sintomas que antes eram inexplicáveis para a medicina da época, a partir de Freud passam a ser vistos como uma formação, uma saída bem sucedida (no sentido de dar vazão a uma energia contida) para aquilo que era considerado como mal de amor, este mal estar sentido pelo sujeito que habita o mundo da linguagem.
O sujeito vem à luz quando fala, mas não qualquer palavra, e nem de qualquer lugar.
É pela linguagem que nos conectamos uns com os outros. É ela quem sustenta a nossa existência psíquica e faz laço nas tessituras sociais. Há em toda palavra, um esforço de amor. Quando falo, posso transformar o afeto contido em um ato de violência direcionado a mim ou a um outro, por exemplo, em uma palavra que pode dar um novo sentido a este afeto. Por mais que o senso comum considere a escuta como algo banal, quando ela é sustentada em uma técnica e amparada na ética psicanalítica, a escuta pode vir a criar pontes que auxiliam os seres falantes a lidar com o mal-estar fruto do reconhecimento de que a solidão constitui todo aquele que habita o mundo da linguagem.
Como podemos lidar com os problemas do cotidiano?
Diante da sensação de mal-estar que acomete vez ou outra a todos nós, o sujeito procura saídas para aliviar as suas angústias. Consumo, bebidas, comidas, rituais, tecnologias, entre outros, são artifícios comumente utilizados, a fim de tamponar o vazio. Porém, toda a tentativa de preenchimento do vazio que nos habita tende a fracassar, produzindo diferentes formas de sofrimento: quanto mais o sujeito consome, mais ele sofre. Ao nos depararmos com a angústia, tornamo-nos presas fáceis para tudo aquilo que nos oferece a ilusão de cura ou a promessa de uma vida feliz e equilibrada.
É neste sentido que a psicanálise ao meu ver, é um dos recursos mais humanos para tratar aquilo que é do humano, pois ela não recua diante do “lado b” da existência, ela acolhe as formas de vida para além da dimensão ideal, sem produzir romantizações. Sem higienizações, sem máscaras e sem treinamentos. Não se trata de adaptar o mal-estar dos sujeitos diante das demandas impostas pelo social, e sim de fazer seu desejo emergir, apesar de tudo, apesar de todos.
Podemos dizer que a psicanálise em sua ética, acolhe a solidão do sujeito que habita o mundo da linguagem, e faz com que ele construa novas interrogações diante de todas as certezas as quais ele ampara a sua existência. Certezas estas que por vezes provocam o sofrimento, justamente por afastar os sujeitos da dimensão do desejo que lhes habita.
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